quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Bebê com algema e cassetete em post da PM gera polêmica em rede social

Imagem foi publicada em Twitter e Facebook da PM de São Paulo.
Para advogado, foto coloca bebê em situação constrangedora e viola ECA.

Cíntia AcayabaDo G1 São Paulo
Foto da bebê publicada no Twitter e Facebook da Policia Militar de São Paulo (a distorção do rosto foi feita pelo G1) (Foto: Reprodução/Twitter)Foto de bebê publicada no Twitter e Facebook da Policia Militar de São Paulo (a distorção do rosto foi feita pelo G1) (Foto: Reprodução/Twitter)
A foto de uma bebê fardada com algemas e cassetete publicada na noite de terça-feira (2) no Facebook e no Twitter oficial da Polícia Militar de São Paulo gerou polêmica nas redes sociais. Em nota, PM diz que a "farda simboliza valores fundamentais para a comunidade" (leia mais abaixo).
A imagem publicada com a mensagem “Boa Noite” e a hashtag #podeconfiarpmesp recebeu críticas de seguidores do Twitter, como “se ela soubesse o que vocês fazem, choraria de medo dessa farda”, “só faltou colocar um revólver na mão da criança. #semnocao”, “já vem com minispray de pimenta e bombinha de gás lacrimogêneo?”, “banalização e culto à repressão, deveria ser crime”, “que absurdo, quem foi o irresponsável que aprovou isso? Isso é uma vergonha”, entre outros.
Já na página do Facebook, a maioria dos comentários foi favorável à publicação da foto: “A essa pode me prender kkkkk linda foto parabéns”, “Boa noite Guerreiros!!! Muito bacana essa pequena PM, já tem perfil de policial !!! Ótimo trabalho à toda Corporação !!!”, “Boa noite. Quero fazer uma roupa assim pra minha neta. Linda essa princesa”, entre outros.
Para Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos e um dos fundadores da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB, a exibição da imagem viola o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”, com pena de seis meses a dois anos.
“A criança é colocada em uma situação constrangedora, vexatória. Foi exposta com uma arma, ainda que não seja uma arma de fogo, mas armas usadas para reprimir, como o cassetete e a algema para prender”.
“Não são brinquedos. Fazem parte dos instrumentos de trabalho da corporação. Houve uma utilização indevida. Foi claramente entregue por um adulto que faz parte da corporação”, completou.
Para Ariel, a foto pode gerar problemas para a criança no futuro. “Por ela ter sido colocada com símbolos de repressão e violência de uma polícia vista como repressiva, ela pode passar por situações de constrangimento na escola”.
O coordenador acredita que a polícia deva retirar a foto ou se retratar. Castro também afirmou que vai pedir ao setor de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo que analise o caso.
A Polícia Militar, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que as fotos publicadas nas redes sociais são enviadas por internautas. Além disso, afirmou em nota, que a farda simboliza, entre outras coisas, "honra" e "civismo".
"A Polícia Militar informa que as fotos são enviadas, como em inúmeras outras situações anteriores publicadas, por internautas ou selecionadas por outras mídias sociais, de caráter público. A farda simboliza valores fundamentais para a comunidade, tais como: o patriotismo, a proteção, o civismo, a honestidade, a honra, a coragem e a dignidade humana.
Também simboliza o juramento, o sacrifício, muitas vezes da própria vida, representado pelos 7 policiais militares assassinados em 35 dias nesse ano, em prol do bem comum, ato nobre nos países mais desenvolvidos, pois é símbolo de orgulho para tais sociedades", diz a nota.

Brasil sonega amostras de zika para pesquisa no exterior, dizem cientistas

OMS pede que país envie mais material biológico para institutos de ponta.
Centros de diagnóstico fazem exportação extraoficial de ampolas à Europa

Da Associated Press
Suporte acomoda amostras de zika vírus na empresa de biotecnologia alemã Genekam (Foto: Ina Fassbender/Reuters)Suporte acomoda amostras de zika vírus em centro de pesquisa alemão (Foto: Ina Fassbender/Reuters)
O Brasil não está compartilhando amostras e dados o suficiente sobre o zika para permitir que pesquisadores determinem se o vírus está realmente por trás dos casos de microcefalia, afirmam autoridades dos EUA e da Organização das Nações Unidas (ONU).
 
ZIKA
Vírus tornou-se preocupação mundial
 falta de dados está forçando laboratórios americanos e europeus a trabalharem com amostras de surtos anteriores e está frustrando esforços para desenvolver testes diagnósticos, drogas e vacinas. Cientistas afirmam que não são capazes de acompanhar a evolução do vírus.
Um dos principais problemas parece ser a legislação brasileira. No momento, é tecnicamente ilegal para pesquisadores e institutos brasileiros compartilhar material genético, incluindo amostras de sangue contendo zika e outros vírus.
"É um assunto muito delicado, esse compartilhamento de amostras", afirmou Marcos Espinal, diretor de doenças comunicáveis da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Espinal afirma que o problema deve ser resolvido por meio de discussões entre os presidentes dos EUA e do Brasil. Ele afirma que o papel da OMS é majoritariamente o de estimular países a compartilharem. Segundo ele, porém, é provável que o Brasil tenha providenciado menos de 20 amostras até agora para colaboradores fora do país.
"Não é possível deixar isso para ser resolvido depois", ele afirmou. "Esperar é sempre arriscado durante uma emergência."
Mesmo quando queremos mandar esse material [amostras do vírus] para o exterior, não podemos, porque é considerado um crime"
Paulo Gadelha, presidente da Fundação Oswaldo Cruz
Bioburocracia
Em maio de 2015, quando os primeiros casos de zika estava emergindo no Brasil, a presidente Dilma Rousseff sancionou uma nova lei para organizar como pesquisadores usam os recursos genéticos do país. Mas o arcabouço legal não foi regulamentado ainda, deixando cientistas em um limbo jurídico.
"Até que a lei seja implementada, somos legalmente proibidos de enviar amostras para fora", afirmou Paulo Gadelha, presidente da Fundação Oswaldo Cruz, um dos maiores centros de pesquisa em doenças tropicais no país. "Mesmo quando queremos mandar esse material para o exterior, não podemos, porque é considerado um crime."
A proibição não necessariamente significa que pesquisadores estrangeiros não possam ter acesso a amostras. Algumas foram compartilhadas com os EUA, incluindo amostras de tecido de dois recém-nascidos que morreram e dois fetos recentemente examinados pelos Centros de Controle e Prevenção dos EUA (CDC).
Mas uma autoridade americana afirmou que isso não é suficiente para desenvolver testes precisos para o vírus ou determinar se o zika está de fato por trás do recente aumento no número de casos de defeitos congênitos. O fenômeno fez a OMS declarar o vírus uma emergência internacional na segunda-feira (1º).
Caso relação seja comprovada, professor diz que pesquisa mostrará detalhes importantes sobre o zika, como mês de maior risco à gestante (Foto: Gabriela Castilho/ G1)Pesquisa sobre o zika vírus em andamento no Brasil (Foto: Gabriela Castilho/ G1)
'Contrabando' de amostras
Dada a escassez de amostras brasileiras, autoridades sanitárias ao redor do mundo estão recorrendo a cepas (linhagens) antigas do vírus – ou discretamente obtendo-as de pacientes por meio de instituições privadas.
Um funcionário de saúde dos EUA que concedeu entrevista sob anonimato afirma que os CDC estão trabalhando com uma linhagem de zika de um surto de 2013 na Polinésia francesa para aperfeiçoar seus testes. Pesquisadores americanos tentando sequenciar o código genético do zika se viram obrigados a trabalhar com amostras de vírus de Porto Rico pela mesma razão.
Nossa única fonte [de amostras do vírus] são pessoas ricas que querem um diagnóstico"
Jonas Schmidt-Chanasit, especialista alemão
Na Inglaterra, pesquisadores estão usando amostras obtidas na Micronésia, no Pacífico, onde ocorreu um surto em 2007. Os franceses estão usando amostras da Polinésia e da Martinica. Na Espanha, cientistas obtiveram uma linhagem de Uganda, por intermédio dos EUA.
Nem mesmo Portugal, país que compartilha laços históricos com o Brasil, não possui cepas brasileiras do vírus. O Instituto Nacional de Saúde em Lisboa afirma que seus testes são baseados em uma cepa obtida dos EUA nos anos 1980, ente outras.
Alguns pesquisadores estão contornando a burocracia brasileira ao obter amostras enviadas a eles por laboratórios de diagnósticos privados, afirma Jonas Schmidt-Chanasit, especialista em doenças transmitidas por mosquitos no Instituto Bernard Nocht de Medicina Tropical em Hamburgo, Alemanha.
"É quase impossível conseguir amostras do país", diz. "Elas não estão vindo por canais governamentais oficiais. Nossa única fonte são pessoas ricas que querem um diagnóstico."
Condenação pública
Em público, autoridades sanitárias têm elogiado o clima de colaboração. A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, afirmou na segunda-feira que o Brasil e o EUA estavam trabalhando "muito de perto" nos estudos. Quando questionado sobre o compartilhamento de amostras, Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Alergênicas e Infecciosas dos EUA (NIAID), disse: "Não acho que seja um problema".
Nos bastidores, a história é outra.
A OMS não obteve nada de lá [do Brasil], nenhuma descoberta clínica ou de laboratório"
Autoridade da OMS, sob anonimato
Quatro autoridades da OMS, concedendo entrevista sob anonimato, afirmaram que o Brasil não está passando informação atualizada suficiente a parceiros internacionais. "A OMS não obteve nada de lá, nenhuma descoberta clínica ou de laboratório", afirmou um deles.
Ben Neuman, virologista da Universidade de Reading, na Inglaterra, afirma que milhares de amostras – ou ao menos centenas – são necessárias para rastrear o vírus e determinar como ele está se modificando. "A ciência só funciona quando compartilhamos", disse.
"O problema de compartilhamento de vírus não está limitado ao Brasil", afirma Gadelha, da Fiocruz. "Isso não é um problema unilateral, é global", afirmou.
Mais de uma década atrás, a OMS enfrentou um problema similar quando a Indonésia se recusou a entregar amostras de gripe aviária, argumentando que cientistas ocidentais as usariam para fabricar drogas que o país não poderia adquirir.
Lawrence Gostin, diretor do Centro de Colaboração para Legislação Sanitária e Direitos Humanos da Universidade de Georgetown, em Washington, afirma que não há regras que obriguem governos a entregar vírus, tecidos ou informações biológicas. "Se países não compartilham, a única repercussão que enfrentam é a condenação pública", diz.

Dilma diz que país tem estratégias para retomar crescimento em 2016

Presidente participou de inauguração de fábrica nesta quinta em Uberlândia.
Ela disse também que 2015 foi um ano 'bastante desafiador' para o Brasil.

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira (4), durante a inauguração de uma fábrica em Uberlândia (MG), que 2015 foi um ano "bastante desafiador" e que o governo tem uma estratégia para que o país retome o crescimento ainda em 2016.
Segundo ela, essa estratégia envolve concessões na área de infraestrutura, como em portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, além da busca pela ampliação de investimentos privados. Dilma disse também que, "dentro das possibilidades", o governo busca ampliar os investimentos públicos.
 Desde o ano passado, quando os indicadores econômicos passaram a indicar alta da inflação e queda nas taxas de crescimento do país, Dilma passou a dizer em seus discursos que 2015 seria um ano de "travessia" para, em 2016, o Brasil voltar a crescer.

"Queria dizer que todos nós sabemos que enfrentamos dificuldades. Nós tivemos um ano de 2015 bastante desafiador e nós, agora, estamos buscando transformar o ano de 2016 no ano da retomada do crescimento [...] e nós temos toda uma estratégia para este momento", declarou.

A uma plateia formada por políticos e funcionários da fábrica inaugurada, Dilma disse também nesta quinta que é preciso que a população se una contra a crise econômica: "você só supera uma crise unido". Ela voltou a afirmar que o atual momento é "muito doloroso" para ser "desperdiçado".

Em um discurso que durou cerca de 15 minutos, ela citou a reunião, na semana passada, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o "Conselhão", no qual pediu união aos integrantes do grupo (empresários, sindicalistas, representantes de movimentos sociais e políticos) que se unam contra a crise.

"Numa crise, você pode usar todos os seus esforços para superar os desafios, encontrar novos caminhos, enfrentar de novas formas seus problemas e é neste aspecto que ela [crise] não pode ser desperdiçada. Por isso, temos uma série de propostas tributárias, de regulação, da Previdência e de melhoria do ambiente de negócios no Brasil", disse.